quarta-feira, 13 de abril de 2016

O PAR IDEAL



  • Relicário dos Prazeres
  • Autor: Manuel Mar.
  •  
  • O Par Ideal!
  •  
  • A história da minha vida,
  • Até me parece misteriosa,
  • Porque é simples e florida,
  • Não pintada ou colorida,
  • E é linda como uma rosa.
  •  
  • Par ideal foram meus pais,
  • Gente muito provinciana,
  • Simples com grandes ideais,
  • Com muitos dons naturais,
  • Muito educada e humana.
  •  
  • O pai foi um trabalhador,
  • Que sabia de vários ofícios,
  • Era um pequeno agricultor,
  • E que cultivava com amor,
  • Afastando pecados e vícios.
  •  
  • A mãe era domestica leal,
  • Cheia de grandes virtudes,
  • Lutava pelo seu bom ideal,
  • Defendendo o valor moral,
  • Das suas honradas atitudes.
  •  
  • Educaram seus nove filhos,
  • Com sacrifício e muito amor,
  • E sempre dentro dos trilhos,
  • Sem desavenças ou sarilhos,
  • Todos estudaram com rigor.
  •  
  • Não havia rádio e televisão,
  • Mas meus pais sabiam cantar,
  • E cantavam ao fazer o serão,
  • Peneirando a farinha do pão,
  • Para depois se poder amassar.
  •  
  • Estudámos à luz do candeeiro,
  • Enquanto vivemos na aldeia,
  • Era sempre pouco o dinheiro,
  • Dava jeito fazer o mealheiro,
  • Para servir como pé-de-meia.
  •  
  • Dois filhos foram professores,
  • Um tradutor, dois electricistas,
  • Dois fizeram cursos superiores,
  • Duas tiveram públicos labores,
  • E hoje já são todos pensionistas.
  •  
  • Conto esta história bem singela,
  • Para honrar os meus bons pais,
  • Se eu fosse pintor faria um tela,
  • A mais maravilhosa aguarela
  • Não quero esquece-los jamais.
  •  
  • Torres Novas, 14/04/2016

O PAR IDEAL



  • Relicário dos Prazeres
  • Autor: Manuel Mar.
  •  
  • O Par Ideal!
  •  
  • A história da minha vida,
  • Até me parece misteriosa,
  • Porque é simples e florida,
  • Não pintada ou colorida,
  • E é linda como uma rosa.
  •  
  • Par ideal foram meus pais,
  • Gente muito provinciana,
  • Simples com grandes ideais,
  • Com muitos dons naturais,
  • Muito educada e humana.
  •  
  • O pai foi um trabalhador,
  • Que sabia de vários ofícios,
  • Era um pequeno agricultor,
  • E que cultivava com amor,
  • Afastando pecados e vícios.
  •  
  • A mãe era domestica leal,
  • Cheia de grandes virtudes,
  • Lutava pelo seu bom ideal,
  • Defendendo o valor moral,
  • Das suas honradas atitudes.
  •  
  • Educaram seus nove filhos,
  • Com sacrifício e muito amor,
  • E sempre dentro dos trilhos,
  • Sem desavenças ou sarilhos,
  • Todos estudaram com rigor.
  •  
  • Não havia rádio e televisão,
  • Mas meus pais sabiam cantar,
  • E cantavam ao fazer o serão,
  • Peneirando a farinha do pão,
  • Para depois se poder amassar.
  •  
  • Estudámos à luz do candeeiro,
  • Enquanto vivemos na aldeia,
  • Era sempre pouco o dinheiro,
  • Dava jeito fazer o mealheiro,
  • Para servir como pé-de-meia.
  •  
  • Dois filhos foram professores,
  • Um tradutor, dois electricistas,
  • Dois fizeram cursos superiores,
  • Duas tiveram públicos labores,
  • E hoje já são todos pensionistas.
  •  
  • Conto esta história bem singela,
  • Para honrar os meus bons pais,
  • Se eu fosse pintor faria um tela,
  • A mais maravilhosa aguarela
  • Não quero esquece-los jamais.
  •  
  • Torres Novas, 14/04/2016

A DERRADEIRA JORNADA


























  • Relicário da Nostalgia
  • Autor: Manuel Mar.

  • A Derradeira Jornada!
  •  
  • Foi durante a Segunda Guerra,
  • Havia fome lá na minha terra,
  • A gente andava desesperada,
  • E por causa do racionamento,
  • Havia dor e muito sofrimento,
  • Toda a gente vivia revoltada,
  • E ninguém podia sequer falar,
  • Havia bufos sempre a escutar,
  • Às ordens da União Nacional,
  • Se refilava ia à cadeia parar,
  • Todo o povo vivia muito mal,
  • Mas tinha que sofrer e calar.
  •  
  • Eu era ainda menino e moço,
  • Quando comecei na jornada,
  • Pouco fazia ou mesmo nada,
  • Já antes do pequeno-almoço,
  • Bem cedo ainda madrugada,
  • Eu fazia enorme caminhada,
  • Para ir buscar água ao poço,
  • E seguia para as filas do pão,
  • Acompanhando a minha avó,
  • E não se comprava pão-de-ló,
  • Ali só havia um pão de rolão,
  • Não se podia fazer mais nada.
  •  
  • E depois do pequeno-almoço,
  • Antes do Sol estar a queimar,
  • Tocava burro à volta do poço,
  • Para tirar água para se regar,
  • Tudo o qua havia lá na horta.
  • Encaminhava água minha tia,
  • A minha avó sentada à porta,
  • Que ela trabalhar não podia,
  • Com a idade ficou bem torta,
  • Mas ainda vivia com alegria,
  • Gostava de dar a sua risota,
  • Até que chegou o último dia.
  •  
  • Quando minha avó faleceu,
  • Quem mais perdeu fui só eu,
  • Pois eu muito dela gostava,
  • Sua morte eu não esperava,
  • Foi para mim um triste dia,
  • De a ver morrer em agonia.
  • Tinha então meus sete anos,
  • Cheios de vida sem enganos,
  • Senti a sua partida ser cruel,
  • Não queria saborear esse fel,
  • Mas acabei por compreender,
  • Quem nasce terá que morrer.
  •  
  • Torres Novas, 13/04/2016



A DERRADEIRA JORNADA


























  • Relicário da Nostalgia
  • Autor: Manuel Mar.

  • A Derradeira Jornada!
  •  
  • Foi durante a Segunda Guerra,
  • Havia fome lá na minha terra,
  • A gente andava desesperada,
  • E por causa do racionamento,
  • Havia dor e muito sofrimento,
  • Toda a gente vivia revoltada,
  • E ninguém podia sequer falar,
  • Havia bufos sempre a escutar,
  • Às ordens da União Nacional,
  • Se refilava ia à cadeia parar,
  • Todo o povo vivia muito mal,
  • Mas tinha que sofrer e calar.
  •  
  • Eu era ainda menino e moço,
  • Quando comecei na jornada,
  • Pouco fazia ou mesmo nada,
  • Já antes do pequeno-almoço,
  • Bem cedo ainda madrugada,
  • Eu fazia enorme caminhada,
  • Para ir buscar água ao poço,
  • E seguia para as filas do pão,
  • Acompanhando a minha avó,
  • E não se comprava pão-de-ló,
  • Ali só havia um pão de rolão,
  • Não se podia fazer mais nada.
  •  
  • E depois do pequeno-almoço,
  • Antes do Sol estar a queimar,
  • Tocava burro à volta do poço,
  • Para tirar água para se regar,
  • Tudo o qua havia lá na horta.
  • Encaminhava água minha tia,
  • A minha avó sentada à porta,
  • Que ela trabalhar não podia,
  • Com a idade ficou bem torta,
  • Mas ainda vivia com alegria,
  • Gostava de dar a sua risota,
  • Até que chegou o último dia.
  •  
  • Quando minha avó faleceu,
  • Quem mais perdeu fui só eu,
  • Pois eu muito dela gostava,
  • Sua morte eu não esperava,
  • Foi para mim um triste dia,
  • De a ver morrer em agonia.
  • Tinha então meus sete anos,
  • Cheios de vida sem enganos,
  • Senti a sua partida ser cruel,
  • Não queria saborear esse fel,
  • Mas acabei por compreender,
  • Quem nasce terá que morrer.
  •  
  • Torres Novas, 13/04/2016



ALDEIA ABENÇOADA





















  • Relicário dos Prazeres
  • Autor: Manuel Mar.

  • Aldeia abençoada!
  •  
  • Do meu tempo de juventude,
  • Guardo gratas recordações,
  • Daquilo que vivi sem atitude,
  • Ainda andava com os calções,
  • Das pessoas de muita virtude,
  • Que me davam bons sermões,
  • Demonstrando em amplitude,
  • Para não restarem as ilusões,
  • Deste mundo que tanto ilude,
  • Praticando tantas más acções.
  •  
  • Gostava de fazer malandrices,
  • Quando surgia a oportunidade,
  • Inventava sempre as aldrabices,
  • Como se fossem pura verdade,
  • Era tempo de tantas crendices,
  • Esse belo tempo da mocidade,
  • Porque faziam muitas tolices,
  • E às vezes de grande maldade,
  • Mas foram tempos bem felizes,
  • Onde se fazia muita amizade.
  •  
  • Vivi numa aldeia abençoada,
  • Repleta de amor e de carinho,
  • Tod’a gente era até educada,
  • E vivia bem com o seu vizinho,
  • O campo era cavado à enxada,
  • E amanhado bem devagarinho,
  • Toda a casa que era abastada,
  • Limpava sempre o caminho,
  • A gente pobre era ajudada,
  • Cada casa parecia um ninho.
  •  
  • Torres Novas, 13/04/2016

ALDEIA ABENÇOADA





















  • Relicário dos Prazeres
  • Autor: Manuel Mar.

  • Aldeia abençoada!
  •  
  • Do meu tempo de juventude,
  • Guardo gratas recordações,
  • Daquilo que vivi sem atitude,
  • Ainda andava com os calções,
  • Das pessoas de muita virtude,
  • Que me davam bons sermões,
  • Demonstrando em amplitude,
  • Para não restarem as ilusões,
  • Deste mundo que tanto ilude,
  • Praticando tantas más acções.
  •  
  • Gostava de fazer malandrices,
  • Quando surgia a oportunidade,
  • Inventava sempre as aldrabices,
  • Como se fossem pura verdade,
  • Era tempo de tantas crendices,
  • Esse belo tempo da mocidade,
  • Porque faziam muitas tolices,
  • E às vezes de grande maldade,
  • Mas foram tempos bem felizes,
  • Onde se fazia muita amizade.
  •  
  • Vivi numa aldeia abençoada,
  • Repleta de amor e de carinho,
  • Tod’a gente era até educada,
  • E vivia bem com o seu vizinho,
  • O campo era cavado à enxada,
  • E amanhado bem devagarinho,
  • Toda a casa que era abastada,
  • Limpava sempre o caminho,
  • A gente pobre era ajudada,
  • Cada casa parecia um ninho.
  •  
  • Torres Novas, 13/04/2016