Relicário de Manuel Mar
A VOZ DO VENTO
Aprendi em menino a ouvir o vento
Que assobiava nas portas e janelas
Os moinhos eram meu entretimento
Aos quais o vento dava movimento
Pintados de cores sempre tão belas.
No Verão quando bom vento fazia
Lá na eira o agricultor ele ajudava
Ao malhar o trigo a palha desfazia
Que era atirada ao vento e lá caia
O trigo, só a palha o vento levava.
E no Inverno isso mesmo acontecia
Para separar a folha da azeitona
Naquele tempo, era como se fazia
Na colheita, o povo sentia alegria
E cantava, era gente brincalhona.
A casa do rancho que o avô tinha
Era um barracão bem preparado
Apenas se compunha de cozinha
E duas camaratas do outro lado
Homens e mulheres em separado.
Mas todas as noites havia o baile
Todo o rancho muito lá dançava
As mulheres usavam o seu xaile
Ouvindo o realejo que lá tocava
Só à meia-noite tudo se deitava.
Manuel Mar
®
Torres Novas,3/08/2016
Foto: Net